Para muitas
pessoas aproveitar a vida é viver cada dia como se fosse o último. Isso tem
muita verdade. Mas o que julgamos ser um momento proveitoso? Se você sair por
aí perguntando o que as pessoas acham da frase que inicia esse texto, a maioria
concordará; e se você pedir para elas contarem como seria esse último dia,
novamente a maioria responderá que faria uma festa, com as pessoas da família e
amigos, depois sairia por aí para zoar, se divertir, rir muito e, por que não,
beber até cair. Ou ainda tem quem diria que sairia às compras e estouraria o
cartão de crédito.
Tudo bem,
acho digno uma festa diante da possibilidade do amanhã não chegar; também seria
muito importante e querida a presença da família e amigos.
Comprar
roupas, sapatos e outras coisas sem se preocupar com o quanto está gastando,
parece tentador.
Mas devo
confessar que toda vez que ouço isso, me parece um argumento superficial, meio
pronto ou ensaiado. Questiono-me se tal resposta seria a mesma quando feita e
respondida pela mesma pessoa, num instante a sós com a própria consciência,
numa perspectiva de ponderar aquilo que realmente damos – ou deveríamos dar –
valor.
Se você
soubesse que hoje seria seu último dia, sairia mesmo correndo para o
supermercado e desesperado se debruçaria no freezer de carne para garantir o
churrasco final? Depois sairia em disparada para o setor de bebidas para pegar
os melhores goles pela última vez? Passaria correndo na conveniência para
comprar o gelo e o carvão enquanto, no caminho, aproveitaria para fazer
ligações, mandar torpedos, e-mails, cutucadas, postagens e tudo o mais
necessário para convidar os “chegados” para sua despedida?
Ou dirigiria
ansioso para encontrar um shopping onde pudesse adquirir aquele sapato que
semanas atrás estava na vitrine e você estava esperando o mês virar para caber
no seu orçamento? Entraria apressado na melhor loja de roupas e compraria
tantas que nem caberiam no carro para levar pra casa? Não abriria mão daquela
bolsa de couro ou carteira linda que estava de olho? Depois faria um lanche no
seu restaurante preferido, estando assim pronto para esperar pelo fim?
Chega ser
engraçado imaginar tudo isso. Acredito que tais cenas são incompatíveis com a
realidade de quem soubesse que não acordaria para um novo dia.
Viver cada
dia como se fosse o último é não esperar uma ocasião especial para dizer “eu te
amo”; é não esperar uma data comemorativa para dar um abraço; é não esperar uma
piada para sorrir; é não esperar uma visita para usar o jogo de louças; é não
esperar um evento para se produzir; é não esperar uma doença para se cuidar...
Em atitudes
muito simples, podemos experimentar ótimas sensações. Como é bom usar o melhor
perfume sempre que dá vontade, vestir uma roupar “de sair” para ficar em casa,
comer naquele prato bonito sem ter medo de quebrá-lo e desfalcar o jogo, receber
com um sorriso quem amamos, deixar um bilhete romântico em um lugar
inesperado...
Na correria dos
nossos dias, nos esquecemos de como é bom ser simples e de que em pequenos
gestos é possível aproveitar muito bem a vida. Ainda há tempo, o dia não acabou.
Caroline Costa Wruck Pereira
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